Mindfulness na Prática

Como você vai reagir?

Quase sempre estamos apenas agindo e reagindo de acordo com nossos condicionamentos, pouco atentos às verdadeiras escolhas que podemos fazer.

Imagine que você está se preparando parar ir ao trabalho e, de repente, tropeça em um objeto no meio da sala. Ou então, passa um dia de cão e ao se preparar para relaxar, percebe que o vizinho adolescente está tocando – muito mal – bateria e o continuará a fazer madrugada adentro, justamente na noite anterior à entrega de um relatório. Tudo começa a dar errado: o cachorro faz xixi no tapete, o carro quebra, sua amiga fica doente…

Essa sucessão de incidentes parece com algo que você já viveu? E como você reage quando o que você planeja foge do seu controle? Todos nós, ao longo da vida, tentamos evitar a dor e buscar o prazer. Com o tempo, nos condicionamos a reagir de uma determinada forma, repelindo o que é desagradável e tentando repetir e reforçar tudo aquilo que algum dia já nos fez bem.

É como se criássemos modelos que acessamos de maneira automática, com um conjunto de regras sobre o que é bom ou mau. E antes de termos tempo de pensarmos sobre essas regras, reagimos com base em nossa experiência passada, regidos por crenças arraigadas em nosso ser, sejam elas reais ou apenas frutos de uma sucessão de acasos que fizeram uma determinada situação ou aspecto parecem melhores.

Um exemplo interessante é o do abacaxi! Quem gosta e já provou a fruta, sabe que, às vezes, ela pode estar azeda e outras docinha. Mas, se uma pessoa teve uma primeira experiência com o abacaxi azedo e, por mero acaso, isso se repetiu algumas vezes, poderá deixar de tentar apreciar o alimento. Sem se permitir a chance de se surpreender com seu sabor, rechaçando todos os abacaxis que aparecerem. Essa atitude seria uma reação a experiências desagradáveis anteriores, mas não necessariamente verdadeiras, considerando-se todas as possibilidades.

Quando agimos por meio de nossos condicionamentos, sem reconhecê-los, limitamos nossas opções. Talvez, você só pare para pensar naquela explosão de raiva desmedida, na palavra mal utilizada, no impulso de partir batendo a porta ou no choro descontrolado depois que a reação aconteceu – e você já tenha prejudicado sua vida social ou feito algo que não estivesse realmente com vontade de fazer. Será que uma roupa esquecida no chão vale um destempero? Ou uma conversa? Isso está mesmo fora do controle ou será que ao perceber o mecanismo que gera a reação você pode fazer uma escolha?!

Que tal investigar por você mesmo?

Nosso convite, é que você fique atento às suas reações, percebendo-as. Vamos fazer um exercício informal de mindfulness? 

No seu dia a dia, busque perceber situações cotidianas, desentendidos, esquecimentos, desencontros ou incidentes que provoquem sentimentos intensos.

  • Essa sensação causada é agradável, desagradável ou neutra? Como você a descreveria?
  • Se essa situação tivesse acontecido em outro contexto, outro dia e com outra pessoa, você a veria da mesma forma?
  • Dica: adote o hábito de anotar essas sensações sempre que puder. Depois de um tempo, você vai poder observá-las com mais objetividade, entender como se sente em relação a elas e compreender seu processo… E até conseguir ver a mesma situação sob um novo prisma, trocando suas reações por ações conscientes. Vale a pena experimentar!

No compasso dos teus passos
Por onde anda sua mente enquanto você caminha?

Nas correrias do cotiadino.

Todos os dias você se locomove, usa a habilidade de andar para ir de um cômodo ao outro da casa, para se deslocar entre os ambientes distintos no trabalho e, quem sabe, até mesmo arrisque uma caminhada para movimentar o corpo no parque.
Mas já se deu uma pausa para reparar como é sentir o próprio ato de caminhar?
Onde está sua atenção enquanto você anda?
Ela está nos seus passos, nas sensações do seu corpo ou está viajando em outro lugar? Estaria sua mente preocupada com o passado ou com o destino daquele movimento, totalmente distante do momento presente?

Se a resposta é que sua mente anda por aí, enquanto seus pés pisam no solo, realizamos um convite: explorar uma sensação diferente e verificar, com seus próprios sentidos, como o ato de meditar enquanto se caminha pode torná-lo mais tranquilo, atento, presente e bem-disposto.

Preparamos dois exercícios baseados na técnica da atenção plena ao caminhar – mindful walking -, para que você possa desfrutar de uma sensação muito mais presente e descobrir um jeito novo de aproveitar o simples ato de andar.

Ex. 1: Seu andar de cada dia
Andar é uma ação tão automática que, normalmente, não nos atentamos em como pode ser valiosa. Conecte-se com ela e com o momento presente, seja indo para a escola ou faculdade, no trabalho ou em casa.

  1. Quando estiver se deslocando de um lugar para outro a pé, observe como se sente, de modo geral.
  2. Leve sua atenção à forma como está andando – como estão seus passos? Você está pisando de maneira intensa ou suave contra o piso? E a velocidade, como está? Você está indo rápido ou devagar?
  3. Percebe se algum músculo está sobrecarregado ou se há tensões em alguma área específica? Importante: procure não julgar se está andando de modo certo ou errado, o convite é para apenas observar.
  4. Como é a sensação de usar seu calçado? Este dá a você uma sensação de conforto ou desconforto? Explore a sensação em todo o contato dos pés com o calçado e perceba as diferentes possibilidades que possam se apresentar.
  5. Volte a perceber o seu corpo como um todo e como ele se relaciona com tudo ao redor e observe: como você se sente AGORA?

Ex. 2: Uma caminhada no parque
Escolha um momento do seu dia para dedicar-se a uma caminhada atenta. Se puder, vá até um parque ou área verde. Escolha roupas confortáveis e um calçado com o qual você se sinta bem. Observe as seguintes orientações.

  1. Como você, de modo geral, está sentido seu corpo neste momento? Está cansado, descansado, motivado, sente que está pesado ou leve?
  2. Sinta o espaço ao seu redor e como você se relaciona com ele? Algum odor ou barulho chama a sua atenção? Escolha uma direção para a qual possa andar e que sinta vontade de explorar.
  3. Comece a caminhar, sem pressa e, de forma intencional, dirija sua atenção aos movimentos que permitem que o ato de andar ocorra. Observe como suas pernas, braços, tórax se comportam para dar sentido ao movimento.
  4. Preste atenção aos seus pés. Como o tipo de solo, os relevos, as depressões na terra, os pequenos desvios interagem com suas pisadas? Você sente a diferença entre um terreno plano, a grama e um local pedregoso? Observe suas sensações.
  5. Volte a atenção ao seu corpo como um todo. Se quiser, explore sensações olfativas, visuais e referentes à própria experiência de caminhar, conscientemente. Como você se sente AGORA?

Uma paradinha faz bem
Escolha um momento só para você

Imagine a seguinte cena: você chega do trabalho, ainda precisa fazer o jantar, separar as contas que vencem na semana, tomar banho, passar um tempo com a família, ligar para aquele amigo cuja mãe está internada. Então, você entra pela sala, vai direto para a cozinha, abre a geladeira para ver o que tem, enquanto liga para o amigo, coloca as panelas no fogo e de relance olha as contas na caixinha.
Eis que entra alguém no local e pergunta “Por que você não tirou o crachá?” ou “Você continua com a bolsa dentro de casa?”.

Cenas como essa acontecem todos os dias e mostram como o ritmo frenético dos tempos atuais nos leva a executar tarefas em sequência sem senti-las nem perceber o que está acontecendo conosco – e com os demais.
É possível que tenhamos a impressão de que uma paradinha irá nos atrasar, diante de tantos afazeres. Mas será que isso acontece mesmo?

A mindfulness convida você a lançar outro olhar sobre a forma como lida com a rotina e como percebe o tempo. 

Em primeiro lugar, é preciso considerar que a ideia de ser “multitarefas”, de não poder parar um segundo, está tão arraigada em nossa sociedade contemporânea que fica complicado se desvencilhar dela. Contudo, fazer muitas atividades simultaneamente pode ser a receita para não fazer nenhuma delas com a devida concentração. A multitarefa também pode deixar com que problemas de saúde, familiares e mesmo problemas relativos ao próprio trabalho acabem passando despercebidos e só sejam notados quando virarem uma bomba-relógio.

Na prática informal, a observação do que estamos fazendo no aqui e agora é importante para garantir que estejamos atentos aos acontecimentos ao nosso redor. Quem sabe, dando uma pausa estratégica, você consiga perceber algo que ajude a resolver um problema mais rapidamente e economize tempo?

DICAS PRÁTICAS: 

  • Quando vier da rua e for entrar em casa, tente parar, respirar e observar a troca de ambiente.  Perceba como você se sente, os cheiros, a temperatura do local e só depois comece a se ocupar.
  • Quando trocar de uma atividade para outra no trabalho acostume-se a realizar uma pequena pausa e verificar seu estado de espírito, suas emoções, suas sensações. Está com frio? Tem fome? Vontade de ir ao banheiro? Depois, pergunte-se se há algo que precisa fazer antes de iniciar uma nova tarefa.


Saia do piloto automático

Você é realmente consciente do que faz?

Algumas ações diárias estão tão automatizadas que nem nos damos conta de que as aprendemos algum dia. Tomar banho, vestir-se e lavar as mãos, estão entre algumas delas. E não há problema nisso! Imagine como seria reaprender todas as manhãs como escovar os dentes? Seria um caos. Por outro lado, enquanto as ações automáticas ocorrem, a atenção no momento presente tende a escapar e podemos nos perder em distrações e pensamentos, sem ter a percepção dos caminhos pelos quais a mente viajou.

Vamos avaliar uma situação muito rotineira como manter a higiene bucal: você pode estar diante da pia, realizando sua escovação, mas pensando no imposto de renda, se o trânsito estará muito ruim, onde deixou seu casaco, entre tantas coisas, e perder-se em elipses de pensamentos que podem variar da mera distração a verdadeiros anseios e preocupações.

Por isso, a prática da mindfulness informal convida você a se encontrar e direcionar sua atenção ao momento presente, mesmo em atividades simples e corriqueiras. Mas, muita calma nessa hora! O convite não é a preocupar-se com a escovação, mas observá-la, de pertinho – sentir como acontece e transformá-la em uma âncora para o aqui e o agora.

Fazer isso é tão simples que pode ser até divertido. O primeiro desafio é lembrar-se. Como essa ação é tão habitual, lembrar de prestar atenção pode ser um pouco mais difícil no começo. Por isso, sugerimos que você deixe um recado pra você mesmo, como um post-it no espelho do banheiro ou um aviso no seu celular.

Vamos praticar? 

  • Escolha uma ação bem fácil: escovar os dentes, tomar banho, lavar as mãos, enxugar-se, pentear o cabelo, calçar os sapatos.
  • Coloque-se na posição de um observador muito isento, prepare-se para acompanhar suas ações e não ficar julgando cada uma delas.
  • Se os pensamentos forem para longe, não se preocupe – perceba e, gentilmente, os redirecione novamente para a prática.

Exercício da escovação presente 

  • Ao escovar os dentes, perceba seus movimentos, não tente controlá-los ou modificá-los, apenas os observe. Como você segura a escova? Com que intensidade? Sinta o contato da escova com os seus dedos e em seguida com seus dentes.
  • Como está a temperatura da água? Você a sente da mesma forma quando a toca com as mãos e quando realiza o enxágue? Qual a diferença entre essas sensações?
  • Perceba o impacto da fricção das cerdas. Há diferença entre a sensação provocada por esse impacto nas diferentes regiões da boca?
  • Que sensações são provocadas pelo cheiro e sabor da pasta de dente?
  • Quando terminar, observe como está o ambiente bucal, há diferenças entre antes e depois da escovação?

DICA: Se quiser, reserve um tempinho para escrever sobre essa experiência, pode ser precioso para você entender seus processos e se observar melhor!

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