Sobre mindfulness

O que é mindfulness?
Texto por Katya Stübing

Mindfulness é a capacidade de sustentar um fluxo de saber o que se passa a cada momento, interna e externamente, com uma atenção refinada.

 

Em literatura acadêmica, podemos encontrar várias definições do que é mindfulness. Algumas são mais explicativas e outras mais nebulosas. De forma geral, a meditação conhecida como mindfulness é uma técnica de treinamento mental que visa acalmar o fluxo caótico dos pensamentos, aumentando a capacidade de concentração e atenção de forma voluntária, focada e relaxada.

Mindfulness tem uma tradução difícil para o português, porque tem sua raiz no termo em sânscrito SATI. Encontramos que na tradição budista, a tradução corrente é atenção plena. Também encontramos em alguns textos a tradução para atentividade, que apesar de não ser ainda uma palavra oficializada na língua portuguesa, tem sido bastante útil para explicar o conceito de mindfulness. Entendemos então que sati é um conceito onde a atenção foi cultivada de tal forma que “não nos esquecemos mais” de onde estamos e do que estamos fazendo. É aquele momento onde você está total e completamente absorvido com o momento presente, sem pensar em coisas do passado ou do futuro, e percebe quando sua mente se distrai. Segundo a citação mais conhecida e divulgada:

Mindfulness é prestar atenção de uma forma particular: com intenção, no momento presente, sem julgamentos (Kabat-Zinn, 1990).

Ao estimular uma observação imparcial dos eventos, a mindfulness nos ajuda a olhar os acontecimentos com outros olhos, trazendo uma nova perspectiva para os eventos, possibilitando novas escolhas, mais conscientes. Conquistamos uma presença menos reativa e automatizada.

Em geral, quando prestamos atenção por longos períodos, sentimos muito cansaço – é preciso muito esforço para manter nossa concentração e em geral o corpo sofre com as tensões musculares decorrentes. Nesta prática meditativa, aos poucos conquistamos um relaxamento físico profundo enquanto mantemos a mente desperta.

A técnica de mindfulness tem suas raízes na tradição budista e foi adaptada para ambientes de saúde no início da década de 1980. Inicialmente, Jon Kabat-Zinn desenvolveu um programa para auxiliar pacientes com problemas de dores crônicas e depois o programa expandiu para transtornos de ansiedade, depressão e hoje é utilizado em diversos setores da saúde. O protocolo de Kabat-Zinn recebeu o nome de Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR) e foi base de inspiração para outros protocolos. O mais famoso é o Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT), desenvolvido pelos professores Mark Williams, John Teasdale e Zindel Segal da Oxford University. Atualmente, o MBCT é o protocolo padrão do sistema público de saúde da Inglaterra, indicado para pacientes com Depressão Grave e Recorrente.

Mas além do protocolo MBSR e MBCT, outros formatos também foram explorados e desenvolvidos, sempre tendo a mindfulness como base de prática e teoria. Para citar apenas alguns, temos a Dialectical Behavior Therapy (DBT) de Marsha Linehan, para pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline; a Action and Commitment Therapy (ACT) de Stephen Hayes, para diversos tipos de transtornos; e o Body In Mind (BMT) de Tamara Russell, baseado em movimentos físicos e inspirado nas práticas marciais.

Da mesma forma, Katya Stübing desenvolveu um protocolo próprio para público geral, o Treinamento em 8 Sessões de Mindfulness (T8SM) e outro protocolo para pacientes graves com Transtornos Alimentares, que fez parte de uma pesquisa de ensaio clínico e em breve estará disponível para profissionais de saúde.

A mindfulness também já expandiu para a área da educação infantil e dos meios corporativos, por ajudar praticantes de todas as idades na autorregulação emocional, na resolução de problemas e a lidar com situações estressantes, aumentando a capacidade de escolhas mais conscientes e mais satisfatórias.

Mindfulness é um treino mental secular (livre de vínculo religioso), onde aprendemos a focar a atenção de forma voluntária, aumentando o rendimento nas diversas atividades do dia-a-dia (performance, como alguns gostam de colocar).

Brain wavesAssim como qualquer nova habilidade, é preciso dedicação e esforço. Longe de ser uma atividade passiva, o praticante é estimulado a perceber os pensamentos sem se envolver com eles, assumindo o comando de sua atividade mental. Essa é uma das metas e para alcançá-la, é preciso disciplina e vontade. Além de desenvovler a concentração tranquila, também cultiva-se uma atitude mais empática, com menos julgamentos e expectativas, mais ancorada na realidade.

Ao diminuir o fluxo dos pensamentos conceituais, a meditação favorece a percepção de que somos muito mais do que nosso processo racional. Ao entrar em contato com uma dimensão mais abstrata e interior, o praticante vivencia uma tranquilidade e paz que são extendidas para suas ações no cotidiano.

Referências:

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KABAT-ZINN, J.; MASSION, A. O.; KRISTELLER, J.; PETERSON, L. G.; FLETCHER, K. E.; PBERT, L; LENDERKING, W. R.; SANTORELLI, S. F. (1992). Effectiveness of a Meditation-Based Stress Reduction Program in the Treatment of Anxiety Disorders. Am J Psychiatry, 149: 936-943. PDF from Google

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